quinta-feira, 11 de maio de 2023

Não faz sentido - ódio do bem

 

Foto – amostra de ódio do bem por parte de Felipe Neto (vulgo rei dos grandinhos).

Como dito na resenha anterior e dando continuidade à mesma, caso venha a ser aprovada a assim chamada “PL das Fake News” (vulgo PL 2630/20), o Brasil tornar-se-á um país regido pelo chamado “ódio do bem”. Haverá punições severas para o chamado “discurso de ódio”. Mas e quando esse mesmo tipo de discurso vem temperado com representatividade colorida, como que fica a coisa? Será que o discurso de ódio com representatividade colorida será submetido a esse mesmo tipo de escrutínio legal? Ou será que o monopólio desse tipo de discurso caberá a pessoas como o Felipe Neto? No fim das contas, quem irá determinar o que é “Fake News” e o que é discurso de ódio? Isso é o que as pessoas não entendem a respeito do PL 2630/20.

Com o PL 2630/20, o André Janones vai poder chamar o Nikolas Ferreira de “chupetinha” que nada ocorrerá a ele. Mas ai do mesmo Nikolas Ferreira se ele ousar se opor a que marmanjos barbados que se dizem mulheres frequentem o banheiro feminino da escola da irmã dele ou joguem no time de vôlei feminino da escola dela. O Felipe Neto vai poder destilar o ódio do bem dele que nada ocorrerá a ele, ao passo que qualquer um de nós poderá ser cancelado e submetido a extorsões por parte de ONGs por dizer palavras que desagradem a essa mesma gente (vide o recente caso envolvendo o tricampeão pela Fórmula 1 Nelson Piquet).

Mas afinal, o que é o “ódio do bem”, para começo de conversa? Em minha humilde opinião, é o típico ódio de justiceiros sociais, que se dizem da paz e do amor, mas que não tem o menor pudor em se utilizar das mesmas armas que aqueles que eles rotulam de odiosos para ofendê-los e levar adiante sua agenda político-ideológica. Em outras palavras, é o ódio com representatividade colorida, levado adiante e disseminado por verdadeiros lobos em pele de cordeiro.

Um bom exemplo de “ódio do bem” é o caso da escritora e criadora da série de livros Harry Potter, J. K. Rowling. Que em 2020 foi cancelada em redes sociais por fazer uma série de comentários que não agradaram nem um pouco a certas militâncias de justiceiros sociais. Entre esses comentários, o fato de ter dito que apenas mulheres menstruam.

O cancelamento sobre ela foi tal que até mesmo atores que fizeram parte do elenco dos filmes de Harry Potter, como são os casos de Daniel Radcliffe (o próprio Harry Potter) e de Emma Watson (Hermione), querendo sair bem na fita, endossaram o cancelamento a ela.

Foto – J. K. Rowling.

Um dos poucos que saíram em defesa de Rowling foi o ator Robbie Coltrane, finado no ano passado, que em Harry Potter fez o Hagrid. “Eu não acho que o que ela disse foi ofensivo realmente. Não sei por que, mas há uma geração inteira de pessoas no Twitter esperando para serem ofendidas. Elas não teriam vencido a guerra, certo? Sou eu falando como um velho rabugento”, ele declarou na ocasião.

Mais recentemente, tivemos o caso envolvendo Nelson Piquet, por ele ter se referido a Lewis Hamilton e a Nico Rosberg por palavras e expressões que alguns interpretaram como sendo racistas e homofóbicas em 2021 e que vieram à tona no ano passado, em entrevista ao canal Motorsports Talks, ao comentar sobre o acidente envolvendo Max Verstappen e Lewis Hamilton no Grande Prêmio da Inglaterra daquele ano, ocorrido no circuito de Silverstone.

Entre outras coisas, por conta da maneira como se referiu a Hamilton e Rosberg, o tricampeão não só tomou multa de R$ 5 milhões a ser paga a ONGs de justiceiros sociais, como também foi banido do paddock das provas da Fórmula 1 em julho de 2022. E o curioso é que se trata da mesma Fórmula 1 que dois anos antes, no Grande Prêmio da Áustria de 2020, fez uma homenagem enrustida ao grupo Black Lives Matter antes do início da corrida, na qual 15 dos 20 pilotos se ajoelharam em respeito ao grupo supremacista negro norte-americano que não só vive de destilar ódio do bem contra brancos (a ponto de intimidá-los a se ajoelhar perante eles e ofendê-los nas ruas), como também naquela época, na sequência da morte de George Floyd, promoveu uma série de arruaças e intimidações de cidadãos pelos Estados Unidos, além de saques e pilhagens de lojas e derrubada de monumentos históricos. Dois pesos e duas medidas na cara dura.

Foto – Nelson Piquet Souto Maior.

Faz um tempo, no Facebook, vi alguém compartilhando postagens nas quais mortes e acidentes de peões de rodeios, toureiros, domadores de feras, tratadores de zoológicos e outros profissionais que lidam com animais, durante o exercício do ofício deles, são comemorados. Uma coisa para lá de mórbida, cretina e canalha. E o que é isso, se não ódio do bem, o mesmo ódio do bem que o Felipe Neto vive destilando por aí (e que não toma sanção ou represália alguma por isso – pelo contrário, ele é convidado para ir à ONU junto com o Barroso para discutir sobre temas como “regulação da Internet” e “combate ao discurso de ódio”)?

Também no Facebook, vi postagens de pessoas comemorando a morte do famoso domador de leões e artista circense Orlando Orfei, ocorrida no dia 1º de agosto de 2015, em uma página dedicada ao próprio Orlando Orfei, por ele ter supostamente maltratado os animais com os quais ele trabalhou por longos anos. E detalhe: em postagens de aviso de falecimento e de sepultamento dele, que teve lugar no cemitério Jardim da Saudade.

Nascido em 1920 no seio de uma tradicional família circense italiana, Orlando Orfei, da 5ª geração da família Orfei, depois de trabalhar por anos em seu país natal se estabeleceu no Brasil nos fim dos anos 1960 e aqui fundou seu circo, o Circo Orlando Orfei, que em seus anos de glória chegou a viajar pela Amazônia, pela Argentina e outros países da América Latina. Também foi o dono do parque Tivoli no Rio de Janeiro (fechado em 1995). Além de suas apresentações com leões, Orlando Orfei também apresentava o número “Águas dançantes”.

Ao longo de sua longa carreira, Orlando Orfei (o qual em vida foi recebido por quatro Papas e que no carnaval do presente ano foi homenageado pela escola de samba Leões de Nova Iguaçu) sofreu vários acidentes de trabalho. Em um deles, ocorrido em Mogi das Cruzes, tomou 160 pontos depois de ter sido atacado em decorrência de uma briga entre leões por uma fêmea no cio.

Mas, por outro lado, podem ser encontradas várias fotos e vídeos de apresentações do mesmo Orlando Orfei abraçado junto a seus animais e até mesmo recebendo lambida de um deles (que é um sinal de afeto e reverência por parte do animal). 

Foto – Orlando Orfei (1920 – 2015) abraçado junto à leoa Elza.

Um que certamente seria alvo de “ódio do bem” por parte de justiceiros sociais nos dias de hoje é o lutador japonês de origem coreana Masutatsu Oyama (nascido Yong Eu Čoi).

Em vida, Oyama, que em três oportunidades esteve no Brasil, era conhecido pela alcunha de “God Hand”, ou a “Mão Divina”. Sua fama foi tamanha que a Capcom se inspirou nele para conceber o personagem Ryu Hoši, o protagonista da franquia de jogos de luta Street Fighter. Outro personagem de jogos de luta, Takuma Sakazaki (vulgo Mister Karatê), das franquias de jogos Art of Fighting e The King of Fighters (ambas da SNK), também foi inspirado em Oyama. O Pokémon Sawk também foi inspirado no lutador nipo-coreano.

Depois de ter treinado Judô e karatê do estilo Šotokan, ele criou sua própria escola de karatê, o karatê Kyokušin, e foi o organizador de diversas competições nacionais e internacionais da modalidade dele.

Dotado de grande força física, Oyama era uma pessoa que gostava de testar e colocar seus limites à prova. Costumava quebrar mais de 30 telhas, além de tijolos e pedras, por meio de técnicas de quebramento com uma pancada que ia de cima para baixo. Além disso, também lutou várias vezes contra touros. Nocauteou 49 deles, os quais tiveram seus chifres arrancados pelo lutador nipo-coreano. Outros três foram mortos por Oyama, o qual os derrubava por meio de uma técnica chamada que consistia em desferir um golpe com o punho direito sobre a fronte do animal. E foi assim que ele ganhou a alcunha de “God Hand”.

A fama de Oyama e seus feitos era tal que na cultura pop japonesa há várias referências a ele. A cena de Cavaleiros do Zodíaco na saga das 12 casas na qual o Seiya corta um dos cornos do elmo do Aldebaran, o cavaleiro de ouro de Touro, é uma clara referência a Oyama. Também são referências a Oyama cenas de Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco em que o Tenšinhan e o Širyu aparecem meditando e treinando debaixo de uma cachoeira (curiosamente, ambos os personagens foram dublados na versão original pelo mesmo dublador – Hirotaka Suzuoki, finado em 2006, que também emprestou sua voz a personagens como Wolfgang Krauser no OVA 2 de Fatal Fury, Mestre Indra em Šurato, Hadžime Saito em Samurai X, Tatewaki Kuno em Ranma ½, Giovanni em Pokémon, Bright Noa em Mobile Suite Gundam e outros tantos). As cenas na cachoeira são referência ao treinamento de Oyama no monte Kyosume, em 1948. As cenas do Mister Satan em Dragon Ball quebrando telhas também são referências a Oyama. Mangás sobre Oyama também foram publicados, como é o caso de “Karate Baka Ičidai”, publicado na Shonen Jump em 1971 e escrita por Ikki Kadžiwara e que rendeu uma adaptação em anime de 47 episódios em 1973.

Se fosse vivo hoje em dia, com certeza era capaz de esses odiosos que dizem defender os animais resolverem cancelar Oyama da forma mais vil e canalha possível, com direito até mesmo a queima de livros dele (Oyama escreveu 80 deles) e o dodžo dele sendo objeto de depredação e pichação por parte desse pessoal tão amoroso e tão da paz. Quem sabe até com um linchamento dele e até de discípulos dele, sob a alegação de que eles compactuam com um assassino de animais. E com a morte dele sendo comemorada com fogos de artifício lançados ao céu.

Foto – Masutatsu Oyama, o mão divina (1923 – 1994).

Também falando em questão de animais, fico imaginando o que não seria, por exemplo, do naturalista australiano Steve Irwin, o afamado “Caçador de Crocodilos”, finado em 2006 depois de ter tomado uma ferroada de uma arraia no mar da Grande Barreira de Coral australiana, caso ele fizesse hoje o que ele fazia em vida nos anos 1990 e começo dos anos 2000.

Steve Irwin, um homem muito popular no país de origem dele e que gostava de situações perigosas, se notabilizou por ter criado uma nova linguagem de documentários, que deixou de ser um documentário com um narrador em terceira pessoa para documentários no qual se passa a ter a figura de um apresentador que interage não apenas com o público, como também com os animais dos locais que ele visitava. Fosse hoje, podem ter certeza que ele não só seria submetido a cancelamentos em redes sociais, como também haveria muitos idiotas comemorando a morte dele.

Foto – Steve Irwin (1944 – 2006), o “Caçador de Crocodilos”.

Eu fico também imaginando o que seria de humorísticos antigos tais como Três Patetas, o Gordo e o Magro, Chaves, Chapolin, Trapalhões e outros tantos caso fossem veiculados hoje, da maneira como foram veiculados na época deles. O tanto de implicância que não ia cair para cima, por exemplo, de certas piadas que neles podem ser encontradas (sendo que no caso dos Trapalhões, por exemplo, eles todos se zoavam entre si). O tanto de ódio do bem, bem ao estilo do Felipe Neto, que essa gente não destilaria para o lado deles sob a alegação de racismo, homofobia e outras afins e com direito a processos e extorsão por parte de ONGs para lá de duvidosas.

Tristes tempos de politicamente correto, em que vale tudo pela chamada justiça social. Até mesmo destilar o mais repulsivo, nojento e abjeto ódio para com certas pessoas enquanto se posa de justiceiro social “good vibes” e “paz e amor”.

Cria-se uma situação na qual o fato de você pertencer a uma minoria (que passa a ser tratada como se fosse uma espécie de bom selvagem dos dias de hoje, como os Navis do filme Avatar) passa a ser uma espécie de carteirada que te dá autorização para fazer toda e qualquer porcaria que ainda assim você não pode ser criticado, sob a pena de o autor da crítica ser taxado de racista, homofóbico, transfóbico e outros porretes retórico-lingüísticos. E com o próprio Felipe Neto (que em 2010 disse no vídeo sobre as bandas coloridas que vai chegar o dia em que será errado você ser heterossexual) contribuindo para a concretização dessa realidade sombria.

Fontes:

Astro do circo, Orlando Orfei morre aos 95 anos. Disponível em: Astro do Circo, Orlando Orfei morre aos 95 anos no Rio de Janeiro (gazetadopovo.com.br)

Daniel Radcliffe diz ser importante ir contra falas transfóbicas de J. K. Rowling. Disponível em: Daniel Radcliffe diz que foi importante ir contra J. K. Rowling (omelete.com.br)

Emma Watson defende pessoas trans após novo texto de J. K. Rowling. Disponível em: Emma Watson defende pessoas trans após novo texto de J.K. Rowling (omelete.com.br)

Fórmula 1 proíbe Piquet de acessar paddock após racismo com Hamilton. Disponível em: Fórmula 1 proíbe Nelson Piquet de acessar paddock após racismo com Hamilton (correiobraziliense.com.br)

Inspirações para o universo Street Fighter. Disponível em: O Doutor Nerd: INSPIRAÇÕES PARA O UNIVERSO STREET FIGHTER (doutornerds.blogspot.com)

Mas Oyama. Disponível em: Mas Oyama - Wikipedia

“Sosai” Masutatsu Oyama. Disponível em: "Sosai" Masutatsu Oyama | Kyokushin Karate

Orlando Orfei – o apóstolo da paz. Disponível em: Orlando Orfei: Orlando Orfei – O apóstolo da paz (orlandorfei.blogspot.com)

Robbie Coltrane, o Hagrid de “Harry Potter”, defende comentários de J. K. Rowling sobre mulheres trans. Disponível em: Robbie Coltrane, o Hagrid de ‘Harry Potter’, defende comentários de J.K. Rowling sobre mulheres trans | CinePOP Cinema

Pilotos se ajoelham em protesto contra o racismo antes do GP da Áustria. Disponível em: Pilotos se ajoelham em protesto contra o racismo antes do GP da Áustria - Superesportes

Um comentário:

  1. E a hipocrisia dos justiceiros sociais de esquerda, mais uma vez, sendo exposta ao mundo inteiro. Mas, infelizmente, parece que boa parte das pessoas segue anestesiada pelas pautas progressistas da agenda woke, ao ponto de achar que isso não existe. Eis aí o elefante na sala.

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