quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Petucanismo: o PSDB dentro do PT. Ou as limitações ideológicas do PT (resumo do livro "a classe média no espelho", de Jessé Souza, parte 3/5)



Foto – Petucanismo.
- A falta de um projeto alternativo explica em grande medida não apenas a colonização do PT pelo discurso do moralismo de fachada elitista como também errático e vacilante em questões fundamentais, incluindo em relação ao aparato jurídico-policial do Estado (página 157).
- Mesmo pessoas inteligentes e politicamente argutas acham que basta ter um projeto econômico alternativo que, de forma espontânea ou mágica, as pessoas vão compreender seu significado e seu benefício. Entretanto, não entendem a importância de se elaborar uma narrativa, um projeto articulado, ao elitista. Do contrário, não se sabe em que sentido reformar o Estado, o Judiciário ou a política (páginas 157 e 158).
- A falta de um projeto alternativo impossibilita um ataque ao núcleo do rentismo e da expropriação elitista, como o tentado por Dilma em seu primeiro governo. Sem tal projeto, Dilma viu-se forçada a recorrer à Rede Globo, braço do rentismo na imprensa, para explicar a luta política à população nos seus próprios termos. Ou seja, foi forçada a lutar no campo do inimigo (página 158).
- Sem um projeto político de longo prazo, é viável promover a ascensão social de setores inteiros (como parcelas dos pobres e a massa da classe média), mas a narrativa da paternidade deste esforço corre sério risco de ser perdida para Igrejas e outros atores sociais nas cidades do Centro-Sul. Como também se faz o serviço sujo para o inimigo, como no caso das leis que criaram o aparato legal durante o governo Dilma que hoje é usado para colocar o PT na ilegalidade e para atacar a democracia (página 158).
Reflexão X – Da seguinte forma o moralismo de fancaria da direita opera: cria uma máscara para o rançoso reacionarismo de pessoas como Mayara Petruso (a mesma Mayara Petruso que em 2010, após a vitória de Dilma Rousseff sobre José Serra no pleito presidencial daquele ano, postou mensagens ofensivas aos nordestinos no twitter e que por isso foi severamente punida) na qual perante a sociedade o dito cujo pode bancar o campeão da moralidade que odeia a corrupção (especialmente quando a corrupção em questão vem do PT). Foi graças a tal máscara que a direita começou a sair do armário a partir das manifestações de 2013, algo que se agravou ainda mais depois que se iniciou a Farsa Jato e do qual Jair Bolsonaro capitalizou.
Reflexão XI – Lembremos do caso da Lei da Ficha Limpa, promulgada em 2010, ainda no segundo governo Lula. Na ocasião, o único partido de esquerda que se posicionou contrário à Ficha Limpa foi o PCO, que viu a armadilha que o PT estava criando para si mesmo, na medida em que delegava ao Judiciário um poder ainda maior para fazer suas politicagens, especialmente em situações de alta polarização ideológica como a que vivemos hoje em dia. Ainda mais levando em consideração que o Judiciário historicamente sempre foi aparelhado pela Casa Grande (a ponto de pedigree e o capital de relações pessoais e familiares muito pesar para alguém alcançar altos cargos na magistratura) ao longo da história brasileira. E mais recentemente a Lei da Ficha Limpa foi usada para impugnar a candidatura de Lula nos eleições presidenciais de 2018. O que é o juiz, se não um político que veste toga? Pelo visto a esquerda tupiniquim, à exceção do PCO, não se dá conta disso. Ou será que é a toa que nos Estados Unidos Republicanos e Democratas colocam na Suprema Corte juízes alinhados ideologicamente a eles?
Reflexão XII – A meu ver, o grande erro do PT nos 13 anos em que ficou no poder não é a tal da corrupção, e sim a complacência para com a Rede Globo e outros veículos da mídia venal. A tal ponto que a Vênus Platinada recebeu cerca de R$ 6 bilhões do Governo Federal em investimentos de publicidade entre 2003 e 2013, provavelmente pensando que assim domaria o dragão com ração e que com o PT a Globo não ia fazer com eles as mesmas coisas que fez com Brizola no tempo em que o político gaúcho foi governador do Estado do Rio de Janeiro (https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc0509200524.htm; https://www.diariodocentrodomundo.com.br/sobre-os-gastos-de-publicidade-do-governo/). O mesmo Brizola que tinha planos de rever a concessão da Rede Globo caso fosse eleito presidente. Algo um tanto similar ao que Hugo Chávez fez na Venezuela quando em 2007 não renovou a concessão da RCTV (a mesma que foi o braço midiático do golpe de 2002). Tanto Brizola quanto Chávez perceberam a importância de se criar um veículo de comunicação com o povo de forma a contrapor-se à guerra midiática dos oligopólios midiáticos: o primeiro criou o jornal “Tijolaços” no tempo em que foi governador do RJ, e Chávez criou o programa “Alô, presidente”, que era veiculado todo domingo na TV venezuelana. Infelizmente, o PT não teve a mesma percepção aqui no Brasil e ficou à mercê da guerra midiática da mídia venal, em especial a partir de 2013.
Reflexão XIII – Por isso que é muito importante o trabalho de base ir até a favela, como disse o Mano Brown (https://www.youtube.com/watch?v=dP1qtvtvwEY). Do contrário, o indivíduo que saiu da pobreza por meio dos programas sociais dos governos petistas atribui sua melhora de vida a Deus ou a seu esforço e mérito próprio simplesmente. Dessa forma, nascem os chamados pobres de direita, verdadeiro exército de Donas Florindas (vulgo Velha Coroca) que não apenas começam a olhar com ojeriza pessoas que ainda estão na mesma situação na qual ela estava antes como também a bater e chamar de gentalha e xingamentos afins os Seus Madrugas da vida e a acreditar em contos da carochinha como a meritocracia e o self-made-man e a votar em políticos que governam apenas para o 1% mais rico tais como Dória e Bolsonaro. Como o PT esqueceu o trabalho de bases com o tempo, tais pessoas tornaram-se presas fáceis para as mentiras do cartel mafioso midiático (apud Osvaldo Bertolino) e da pregação da Igreja do Edir Macedo, do Silas Malafaia, do Valdomiro Santiago e sua teologia da prosperidade (que nada mais é que o velho discurso calvinista de que a riqueza material de uma pessoa é um sinal de salvação divina. Diga-se de passagem, é muito lamentável ver uma pessoa se dizer Católica e apregoar tais discursos de fundo calvinista. Afinal, o céu calvinista é o céu dos irmãos Koch, do George Soros, do CEO da Nestlé, da família Quandt [a família mais rica da Alemanha e donos da BMW], do Jorge Paulo Lemann, do barão de Rothschild e outros multimilionários).
Reflexão XIV – Uma coisa é certa: não foi nada que surgiu esse exército de fascistinhas que chama Bolsonaro de mito e fica de tempos em tempos fazendo a pose da arminha com as mãos. Tal pessoal, em grande medida influenciado pela pregação ideológica de Olavo de Carvalho (vulgo Sidi Muhammad Ibrahim Isa) e seu conspiracionismo em torno do Foro de São Paulo e do famigerado marxismo cultural, por filmes como Tropa de Elite e programas policiais como o do Ratinho e do Datena, saiu do armário em massa a partir das manifestações de 2013 e engrossou o coro a favor da queda de Dilma e da prisão de Lula. Ou seja, a direita esteve todo esse tempo fazendo de gato e sapato a esquerda na disputa por hegemonia ideológica.

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