Por Marcus Valerio XR
(com adaptações)
Vejamos um esforço de
diferenciação destes três termos, que estão em ordem inversa de popularização,
pois Globalização tem
sido uma palavra exaustivamente repetida nas mídias, Globalismo tem
se popularizado recentemente, e Globismo
permanece como um termo exótico e de nichos específicos, além de ser
utilizado apenas no Brasil.
A confusão entre os dois
primeiros já é constante na língua inglesa, sendo que globalization e globalism por
vezes são vistos como sinônimos, por vezes como antagônicos ou mesmo como
termos hierarquizados, onde globalization seria
uma medida de globalism.
Em português também tem
havido confusões similares e por vezes em sentido contrário, e uma simples
busca no Google há de mostrar opiniões largamente distintas. No entanto, parece
haver um meio de compreendê-los que resiste à maior parte das confusões.
GLOBALIZAÇÃO:
Seria qualquer forma de
internacionalização de coisas e procedimentos, em especial comércio, trocas e
deslocamento de pessoas. A ideia de uma "aldeia global", hoje
amplificada graças aos novos meios de comunicação e transporte, mas que já
ocorre em escala menor há milênios, e exemplo da expansão dos impérios antigos,
da Rota da Seda, de desbravadores como Alexandre Magno ou Marco Polo, bem como
as grandes navegações e descoberta do Novo Mundo.
Frequentemente é vista
de forma neutra, como um fenômeno espontâneo e inevitável, com benefícios e
malefícios intrínsecos. Por um lado, facilita o comércio e acesso a bens de
consumo mesmo por parte de populações mais pobres, por outro dificulta o
desenvolvimento devido a dificuldade de competição que favorece os países mais
ricos. Políticas protecionistas são vistas como opositoras da globalização, que
em geral pressupõe o Liberalismo tanto Econômico quanto social, visto que
costumes e culturas também se misturariam e transitariam pelo globo.
GLOBALISMO:
Quase sempre visto de
forma pejorativa pelos usuários do termo, muitos dirão que é o lado ruim, ou
mesmo a verdadeira face, da Globalização, pois enquanto a primeira parece
apenas afirmar uma dissolução de barreiras entre os povos em função de um
"livre mercado", o Globalismo seria a imposição de um modelo único
por parte de uma força central específica que submete todo o planeta.
Assim, embora haja
utilizações diferenciadas e por vezes mesmo invertidas destes termos, em geral
os usuários dirigem suas críticas ao Globalismo, pois se há pouca disposição em
criticar a simples abertura comercial, que pode ser tanto benéfica quanto
maléfica mesmo para alguns países menos desenvolvidos, por outro lado sobra
disposição para criticar qualquer forma de imposição dos mais desenvolvidos
sobre os ainda em desenvolvimento. Nesse sentido, o Globalismo é visto como uma
forma de Imperialismo.
Figura 1 - Globalização: expectativa vs realidade
No entanto, pode-se
afirmar que o Globalismo seria o resultado inevitável da Globalização, visto
que os países mais desenvolvidos inevitavelmente levam vantagem na
"livre" competição internacional, terminando por dominar os mercados.
Mas também é possível reverter o enfoque e dizer que grande parte dessa
vantagem deriva justo de uma má globalização, que por vezes se dá de forma
assimétrica, com os países mais desenvolvidos forçando a abertura dos países
menos desenvolvidos, mas eles próprios se abrindo pouco em contrapartida.
Via de regra, costuma-se
dar um forte enfoque “culturalista” na reação ao Globalismo, que evidentemente
teria como maior foco de irradiação os EUA, impondo seus consensos culturais
liberais a todos os povos com um farto arsenal de rótulos depreciativos contra
qualquer resistência, embora seja bom notar que a própria cultura norte-americana
é em larga parte também refratária a esses valores, o que leva a inevitável
conclusão de que o Globalismo não é ditado pelo país, mas pela elite financeira
internacionalista, sem vínculos reais com o povo.
GLOBISMO:
Por fim, apesar das
confusões, talvez este terceiro termo exclusivo de nosso idioma venha ajudar no
esclarecimento. Esse neologismo tem sido usado para se referir aos interesses e
sistema de pensamento das organizações Globo, em especial da Rede Globo de
Televisão.
Por uma feliz
coincidência, o nome dessa cadeia empresarial, pertencente a um seleto grupo da
elite bilionária brasileira, se encaixa perfeitamente com o tema em questão. A
Rede Globo seria então o maior representante do Globalismo no Brasil,
replicando os interesses não exatamente dos EUA, mas da elite econômica
internacionalista que de fato impõe o globalismo imperialista.
É perfeitamente evidente
que a Globo defende valores alheios ao da maior parte da população, se posicionando
sempre de forma liberal a respeito de temas polêmicos como aborto,
homossexualidade, Feminismo e outros, ainda que em geral de forma sutil visto
depender da audiência de uma população sabidamente conservadora.
Da mesma forma, também
se posiciona favorável ao liberalismo econômico por meio do apoio, por vezes
nem tão sutil, a ideologias e partidos políticos com propostas de desregulação
privatistas e rentistas. Visto tudo isso ser de perfeito interesse das elites
financeiras, as maiores beneficiárias do ambiente liberal.
São exatamente estes os
interesses do Globalismo, que visa impor o liberalismo econômico e o
liberalismo cultural ao máximo possível ao redor do mundo, embora com largo
sucesso apenas no ocidente. Assim, a Globo é um exemplo perfeito desse
alinhamento ideológico.
Por fim, ainda que se
possa distinguir o Globalismo da Globalização, não muda o fato de que este
último é do interesse do primeiro, visto ser no ambiente globalizado do mercado
"livre" internacional que o Globalismo usufrui das vantagens de
atender aos interesses de quem já possui muito poder e encontra maior
facilidade de, em geral de forma sutil, impô-lo à toda parte da mais ampla
forma possível. E se necessário, apelando ao uso da força para impor a
"democracia" e a "liberdade" mesmo aos povos que não estão
interessados nela, característica indelével do Imperialismo.
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